2019 – Tilo – Livro Glorious Black S1: Sobre Angst e Einsamkeit

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      Angst e Einsamkeit
      Glorious Black
      Orkus! Magazine 2019
      Por: Claudia Zinn-Zinnenburg
      Tradução: Yasmin Amarante

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      Angst

      Em dois atos, a banda Lacrimosa de Tilo Wolff nos leva a uma peça romanticamente bela, mas também sombria e melancólica que leva o auspicioso título Angst (Medo). O arlequim, logotipo do Lacrimosa, aparece na borda da capa do álbum. Não reconhecemos seu rosto. Não sabemos dizer se é uma cena trágica ou cômica. Ou ambos. Com sons de órgão pesados, Seele in Not nos prepara para uma jornada, uma odisseia com uma forte tempestade em um vasto mar de lágrimas. O navio dos sentimentos virá? Com nove minutos e meio, Seele in Not é uma das três faixas mais longas do álbum e desfruta do espaço gigantesco que experimenta em sua realização musical. O Requiem um pouco mais longo, que parece ser intercalado com um cheiro forte de incenso, permanece teatral. E então, Lacrima Mosa acaba por ser a perfeição emocional em uma peça instrumental, estimulando a pensar sobre nós mesmos e em nossos sentimentos. O segundo ato começa sagradamente com Der Ketzer (O Herege), que expressa críticas aos dignitários eclesiásticos na forma do Papa. Der Letzte Hilfeschrei soa e é particularmente comovente com sua letra. Depois que o coração parou de bater, choramos as lágrimas silenciosas da inexistência (Tränen der Existenzlosigkeit). Sem fôlego, mesmo com uma lágrima no rosto, profundamente tocados emocionalmente, o Lacrimosa nos deixa refletir e nos faz encarar o nosso medo.

      Einsamkeit

      No lugar onde o Lacrimosa nos deixou no ato passado – sozinhos e em total solidão – agora ele nos pega novamente pela mão. Mais uma vez o palhaço triste está no centro do ato. A alegria se acaba a ir embora junto com o circo, e ele se senta no chão com a cabeça entre as mãos. É melancólico conter as lágrimas de saudade (Tränen der Sehnsucht) ou é melhor deixá-las correr livremente? Enquanto em Angst quase não havia esperança, agora está ficando mais leve em alguns lugares, mas não menos deprimente, tanto liricamente quanto musicalmente. O Lacrimosa mostra uma faceta mais preparada. Olhares passageiros (Reissende Blicke) descrevem a sensação de ser protagonista da própria vida, olhando-a de fora como um cinéfilo, algo que talvez todo mundo sinta de vez em quando. A alegre música circense da canção título Einsamkeit, mostra o trágico conflito interno da vida e ressalta a letra depressiva. Tilo nos mostra um lado mais severo e com uma guitarra bem agressiva em Diener eines Geistes. Em Loblieb auf die Zweinzamkeit, um réquiem triste porém atmosférico, questionamos o nosso próprio ser. Por fim, temos um destaque especial para a amargurada Bresso, em que o violino triste enfatiza particularmente o clima de perda e saudade. Após quase 45 minutos da mais intensa experiência musical, estamos novamente atordoados, nos sentindo simplesmente arrebatados pelos sentimentos que Tilo descobriu nas nossas almas. A solidão também te afeta?

      “Às vezes, uma música pode me fazer desmoronar…”

      Orkus: Um ano depois do magnífico Angst, o LP de Einsamkeit foi lançado. O que você achou de trabalhar nele? Foi algo mais fácil ou mais difícil que o Angst?

      Tilo Wolff: Foi mais fácil porque agora eu sabia pelas experiências com o Angst que era possível para mim compor, gravar, publicar e distribuir um álbum. Fazer música é e continua sendo frágil e fascinante ao mesmo tempo, mas naquele momento eu tinha a certeza de que não era só um sonhador ou um cara esquisito tentando fazer música, e sim um músico. E isso me motivou a explorar mais fronteiras, experimentar coisas novas e simplesmente arriscar tudo em algo novo.

      O: Qual é a diferença entre esses dois álbuns para você pessoalmente?

      TW: O Einsamkeit é um pouco mais dedicado e musicalmente um pouco mais amplo em termos de conteúdo e expressão, o que também levou à classificação do álbum como um álbum de Krautrock*. Da perspectiva de hoje, é bem ridículo, mas para a cena da época, o álbum era simplesmente demais por ter muitas guitarras.

      O: Você teve algum tipo de insight sobre a imagem da capa do álbum?

      TW: Não, a capa do Einsamkeit é mais ou menos uma cena chave do filme “O Circo”, de Charlie Chaplin, cuja arte me inspirou e influenciou muitas vezes!

      O: Existe alguma música no álbum que ainda te emociona por causa do seu conteúdo?

      TW: Uma vez que pude viver todos esses sentimentos que processo em minha música e posso me lembrar das causas e da experiência de cada um deles, basicamente todo título tem o potencial de fazer a emoção ser sentida novamente. É mais uma questão de até onde eu quero permitir isso, e isso depende da situação. Pode ser que algumas músicas não façam com que eu me emocione por fora, mas elas abrem feridas consideráveis por dentro, principalmente quando estou sozinho. Música é algo muito particular, por isso os shows são sempre um grande desafio. Mas também sempre depende do respectivo humor pessoal. Às vezes, uma música pode me fazer desmoronar, enquanto outras apenas mexem comigo levemente.

      O: Qual música no Einsamkeit tem o poder de fazer você sentir amor?

      TW: Certamente as mais calmas e não as agitadas, mas de certa forma eu sempre me vejo em cada uma delas e vejo também o motivo pelo qual muitas músicas foram criadas, e é por isso que sempre simpatizo com minhas músicas! “Sentir amor” talvez não seja a expressão certa, mas sim simpatizar, porque agora sei que muitos estão e estiveram em estados emocionais semelhantes aos meus, e posso simpatizar com isso por meio de minha experiência pessoal.

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      *movimento musical na Alemanha entre as décadas de 60 e 70, que se caracteriza por bandas com propósitos experimentais e com novas propostas musicais.

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