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14 de setembro de 2017 às 19:56 #360Karina Bruschi PinottiMestre
Entrevista feita em junho de 2005 pela revista Roadie Crew, um ano depois do primeiro show em São Paulo no Olympia.
Essa entrevista foi fornecida por nossa Coordenadora Geral Yasmin AmaranteRoadie Crew: No ano passado a banda visitou pela primeira vez os fãs brasileiros. Eu estava presente naquele show e tudo correu de forma fantástica. Quais são as suas melhores memórias o Brasil?
Tilo Wolff: As lembranças são muitas! Me diverti muito quando tivemos uma sessão de autógrafos com os membros do nosso fã-clube brasileiro, pois fomos tratados de uma maneira esplêndida. Também tenho ótimas lembranças do show em si, do sentimento de tocar em frente de uma platéia tão entusiasmada com o Lacrimosa. Foi a primeira vez que tocamos no Brasil e o resultado foi maravilhoso!Roadie Crew: O Lacrimosa usa a língua alemã na maior parte de suas músicas e, apesar de traduções para o inglês estarem sempre presentes nos encartes dos álbuns, a compreensão acaba não sendo perfeita para alguns fãs de países estrangeiros. Mesmo assim, acho que os fãs brasileiros estão entre os mais especiais para a banda Como você explicaria isso?
Tilo Wolff: Sim, como você disse as traduções das letras para o inglês sempre estão nos encartes, para que todos que comprarem os álbuns possam nos entender. Mas acho que o fato de sermos tão queridos no Brasil é algo fantástico. Algumas vezes as pessoas, inclusive do seu país, me dizem que não precisam entender as letras, pois a música fala por si só. Acho isso um grande elogio!Roadie Crew: Em 2003 foi lançado o álbum Echos. Como você avalia a repercussão mundial para ele?
Tilo Wolff: Aquele foi, com certeza, um álbum atípico para o Lacrimosa e por essa razão foi muito interessante ver como as pessoas reagiam a ele. A repercussão não foi tão boa como, por exemplo, a que estamos tendo para o novo álbum. No caso do Echos, acho que 70% das pessoas com quem conversamos gostaram do material, já o restante teve algum problema com ele. Mas, por outro lado, muitos me disseram que o consideravam o melhor álbum que já lançamos. É sempre muito interessante ouvir essas opiniões diferentes.Roadie Crew: No ano passado, você começou a escrever músicas para o novo álbum de estúdio da carreira do Lacrimosa, que também celebra os 15 anos de existência da banda. Conte-nos sobre o sentimento especial envolvendo a composição deste novo álbum.
Tilo Wolff: Eu tentei, depois de um álbum tão complexo como o Echos, me concentrar nos sentimentos e fatos básicos do Lacrimosa, o que significa que tive como foco o reflexo das letras. Eu não queria ouvir o álbum depois e perceber que as músicas eram excelentes, mas que não existiam ligações com as letras. Era muito importante para mim que neste novo álbum esta ligação estivesse mais forte que em qualquer outro que já lançamos. Outra coisa importante para mim foi fazer o projeto Snakeskin entre Echos e Lichtgestalt, pois pude dar um tempo do Lacrimosa, como se tirasse férias! (risos). Quando retornei, me senti completamente livre e relaxado para compor e pude estar muito mais concentrado nos sentimentos básicos que eu queria transportar para as músicas.Roadie Crew: O título do álbum, que significa “figura luminosa”, assim como as ilustrações da capa, como o típico palhaço do Lacrimosa tirando suas roupas e ganhando asas, e alguns nomes de músicas, como “The Party is Over” e “My Last Goodbye”, dão ao ouvinte impressões de um renascimento ou um fim. Quais são as conexões entre esses elementos e a mensagem de Lichtgestalt?
Tilo Wolff: É mais um nascimento que um fim e a conexão é que Lichtgestalt fala sobre o amor e como isso foi refletido na minha vida até agora. É sobre a beleza e a dor que poder ser resultantes do amor. Também sobre uma pessoa que está amando, que naquele momento é uma figura luminosa, que brilha. Esta também pode ser a ligação com a capa…Veja bem, no meu caso, quando alguém está perguntando sobre Tilo Wolff, as respostas serão conectadas com o Lacrimosa, pois a maioria das pessoas me conhecem assim, mas não sabem dos outros lados que tenho. Sempre estive na sombra do arlequim que representa o Lacrimosa e, por outro lado, também sou a figura luminosa dele pois eu o fiz, o criei, e posso mudá-lo e dar-lhe asas, como agora. Se quiser, também posso matá-lo (risos).Roadie Crew: Como foi a estrutura em estúdio e novos instrumentos explorados desta vez em Lichtgestalt?
Tilo Wolff: Novamente trabalhei com instrumentos da Era Barroca até a Clássica. Mas dessa vez trabalhei, como na faixa “My Last Goodbye”, com um baixo “fretless”, que é um instrumento típico do Jazz. Sempre quando componho, ao mesmo tempo já trabalho o arranjo das músicas, para que o resultado seja o mais puro possível e mais próximo da ideia original. Então, quando tenho uma certa melodia em mente, já sei qual instrumento deverá tocá-la. Depois de anos trabalhando orquestrações, você já pega uma certa prática e facilidade nisso…Por exemplo, sabe bem que certa melodia que funciona bem com uma trompa de pistões, pode não ser ideal para um violino ou violoncelo. Cada melodia pede um instrumentos próprio e, no final das contas, acabo tendo mais de trinta instrumentos diferentes no álbum (risos).Roadie Crew: O álbum Lichtgestalt é, então o fim para o arlequim em seu tradicional formato nas ilustrações?
Tilo Wolff: Ainda não sei. Ele sempre estará lá, mas não sei qual será a sua aparência para o futuro. Ainda tenho que decidir isso.Roadie Crew: Sobre a sonoridade do Lichtgestalt, ao meu ver ela mantém o estilo tradicional e único da banda, mas de uma maneira mais pesada, principalmente nos riffs de guitarra. O que você pensa a respeito?
Tilo Wolff: Eu concordo! Acho este álbum bastante áspero, pois não existe nada entre a música e a expressão que eu queria dar a ela. É um álbum sobre sentimentos puros e por isso é mais pesado, principalmente no que diz respeito a guitarras. E também, por outro lado, em músicas como “The Party is Over”, possui momentos mais minimalistas e isso tudo faz do álbum algo muito dinâmico, que vem direto do coração e o atinge de forma direta. Isso só pode ser feito de forma pura e plena.Roadie Crew: A faixa de abertura de Lichtgestalt, Sapphire, possui inicialmente uma atmosfera muito calma, dando lugar então, a riffs pesados e vocais agressivos. Ela me deu a impressão de que a viagem de navio apresentada na capa de Echos havia chegado ao fim e algo novo estava a vir. Qual é a mensagem dessa música e a opção de colocá-la como primeira no álbum?
Tilo Wolff: Você está absolutamente certo! Ela é a continuação da música que finaliza o Echos e serve para levar o ouvinte para dentro do novo álbum. O tema de Echos é a “procura” e a música Sapphire mostra o resultado dela, onde ela chegou: o amor. Sendo o amor o tema de Lichtgestalt, esta música de abertura é a conexão entre ambos os trabalhos. Se você olhar na ilustração da contra capa do álbum, ao lado esquerdo das roupas de palhaço verá um grande desfiladeiro e ele é o mesmo por onde o navio de Echos estava navegando. Eu não sabia onde ele chegaria…Se seria no mar aberto ou onde de fato chegou. Eu percebi que com a mudança sonora em Echos, o arlequim deixou o navio e escalou as montanhas, entrando em uma nova atmosfera, uma nova dimensão. Sentou lá e viu que não havia mais a questão se seria o mar aberto ou não, isso não era mais relevante. Esta é uma grande representação de como a música do Lacrimosa mudou, para esta evolução que ocorreu desde Echos.Roadie Crew: Assim como em Sapphire, na faixa Lichtgestalt, você usa a sua voz de maneira bem agressiva em certas partes. Conte-nos sobre esta opção por algo mais áspero nestas músicas.
Tilo Wolff: É meio difícil de explicar, eu apenas senti isso. Isso me levou a concluir que deveria cantar as partes daquelas letras naquela forma. Na maioria das vezes, quando componho não penso, tento sentir. O mesmo pode ser aplicado aqui, não posso dar uma explicação exata a não ser que apenas senti.Roadie Crew: Kelch der Liebe é muito bombástica, com poderosas orquestrações e linhas de guitarra. Num todo, a atmosfera dela me lembra a sonoridade da banda no álbum Elodia. Você concorda?
Tilo Wolff: Sim, de alguma maneira ele está conectada à musicalidade do Elodia. Isso também pode ser visto em Kelch der Liebe , deste novo álbum, e Ich Bin Der Brennende Komet, do Stolzes Herz…Elas possuem um certo atributo da musicalidade do Lacrimosa que eu acho muito importante e gosto de usar sempre. É uma parte da banda, como uma pessoa amigável que sempre volta! (risos)Roadie Crew: Nachtschatten é uma das composições mais emotivas de toda a carreira do Lacrimosa! Qual é o significado desta música e os sentimentos nela envolvidos?
Tilo Wolff: É uma música muito especial, que fala do grande poder do desejo, sobre a infinita escuridão de quando você está tentando viajar com o seu coração e a sua mente para algum lugar, para alguma situação, ou para alguma pessoa, que você não poderia normalmente atingir com o seu corpo de onde você está no momento. Este é um tópico que já explorei algumas vezes, mas desta vez esse sentimento ficou mais forte e expressei isso com todo o meu coração. Como você mesmo disse, essa é uma das faixas mais emocionantes da carreira do Lacrimosa.Roadie Crew: Você tirou da Bíblia Sagrada a letra Hohelied Der Liebe, a faixa que encerra o álbum. Qual é o seu relacionamento com o catolicismo e a igreja?
Tilo Wolff: Eu acredito em Deus, mas não sou católico e também não acredito que a Igreja sempre faça as melhores coisas para continuar a forma como Jesus queria. Mas, é claro, eu respeito as crenças de todos. Sou Cristão e esta crença em Deus é algo muito grande em toda a minha vida.Roadie Crew: Hohelied der Liebe possui uma sonoridade que tende bastante para a Música Sacra, principalmente tendo em mente um Réquiem, como o consagrado Requiem do compositor Wolfgang Amadeus Mozart. Esta faixa começa com orquestrações calmas, onde posteriormente é somada a sua voz e um coral angelical. Tão bela, porém tão sombria. Você tinha em mente um Réquiem quando a compôs?
Tilo Wolff: Não de fato, mas o Lacrimosa é inspirado desde o nome pelo Requiem de Mozart e sou um grande amante desta obra. Então, de alguma forma, sempre que componho meu trabalho, esta obra me influencia. Pois componho com a alma e o Requiem está muito de dentro de mim. De um jeito ou de outro, sempre acaba acontecendo. Porém, nesta música, não fui conscientemente inspirado por ele.Roadie Crew: Como uma faixa oculta, o álbum possui uma versão em piano para The Party is Over, tão legal quanto a original! Como surgiu essa ideia?
Tilo Wolff: Isso aconteceu no estúdio, pois quando gravamos as partes para flauta e oboé eu tive que mostrar os tons para os instrumentistas. Só que eu não me lembrava bem e tive que me sentar ao piano para ter as notas novamente em mente. Então, fazendo isso, percebi que soava muito legal. Pensei nisso e tive a ideia de gravar essa versão. É claro que eu não queria mudar a versão original, então decidi colocar uma releitura como uma faixa oculta. É uma música extra para as pessoas mais atentas. Ela não é mencionada na capa porque eu queria que as pessoas comprassem o álbum e vissem apenas oito faixas e, quando percebessem essa nona ficassem positivamente surpresas. Se vissem oito faixas e uma nona como bônus, poderiam ficar desapontadas pelo fato de ser apenas uma versão da mesma composição. A forma como está é uma surpresa bem mais legal! (risos).Roadie Crew: Em termos gerais, podemos facilmente mencionar Lichtgestalt como um dos melhores álbuns da carreira da banda. Qual é a sua opinião a este respeito e as expectativas para a aceitação do material?
Tilo Wolff: Eu fico muito feliz em saber que algumas pessoas pensam que este é um dos melhores álbuns do Lacrimosa. Para mim é o melhor, mas é uma opinião muito pessoal e muito próxima, já que estive trabalhando tanto tempo nele. Já conversei com muitas pessoas sobre ele e acho que os fãs vão gostar muito de Lichtgestalt, pois até agora não achei uma pessoa que não tenha gostado. Em segundo lugar, este álbum é puro e honesto e se uma pessoa aprecia algo na banda, certamente gostará do álbum, pois ele tem tudo que é positivo sobre o Lacrimosa.Roadie Crew: Tendo o Gothminister como banda de abertura, o Lacrimosa começará uma turnê européia, e nela visitará Moscou (RUS) pela primeira. Creio que vocês estejam planejando algo muito especial para essa turnê de aniversário…Haverá alguma gravação dos shows e ou set lists especiais para a ocasião?
Tilo Wolff: Sim! Nos shows tocaremos músicas de casa um dos álbuns que já lançamos, então será a história dos 15 anos do Lacrimosa em duas horas e meia. Será muito especial! Nós gravaremos esta parte da turnê e, também, shows que faremos na América do Sul. Tudo será lançado no próximo ano em um DVD e um novo álbum ao vivo.Roadie Crew: No ano passado (2004) você lançou Music for the Lost, o primeiro álbum do Snakeskin, seu projeto paralelo voltado para a música Eletrônica e Industrial. O que você pode dizer a respeito desta experiência?
Tilo Wolff: Basicamente o Snakeskin é o Lacrimosa em uma outra linguagem musical. Quando componho para o Lacrimosa, primeiro faço a letra, depois a música, no Snakeskin ocorre o oposto. Primeiro expresso meus sentimentos sem uma letra, colocando-os diretamente na música, e depois cuido das palavras. Este projeto expressa os meus sentimentos de uma forma diferente do Lacrimosa e ele serviu para eu ver o que aconteceria com a minha música se eu tirasse todas as raízes que tenho da minha banda principal. Acho que foi uma experiência muito boa! Eu amo o álbum! Também foi legal para que o Lacrimosa tivesse uma pausa e eu compusesse dessa forma, para depois voltar e compor no estilo normal. Acho que o Lichtgestalt não seria um álbum tão puro sem o Snakeskin.Roadie Crew: Music for the Lost foi muito bem aceito pelos fãs. Então, você tem a intenção de trazer este projeto de volta depois dessa turnê com o Lacrimosa?
Tilo Wolff: Sim, sem dúvida! Eu ainda não sei se será logo depois da turnê, mas com certeza lançarei outro álbum do Snakeskin.Roadie Crew: Falando um pouco a respeito da carreira do Lacrimosa, qual foi o ponto mais baixo e o mais alto que você teve nestes 15 anos de existência da banda?
Tilo Wolff: O ponto mais baixo foi depois do álbum Satura, em 1993, quando eu tive um bloqueio de escritor momentâneo. Naquela época eu percebi que se não pudesse compor, uma peça muito importante em minha vida estaria faltando e fiquei muito deprimido. Já o mais alto…Acho que o momento mais importante para o Lacrimosa foi quando eu, bem no começo, decidi não assinar com uma gravadora, mas sim começar a minha – a Hall of Sermon -, e ser completamente independente. Acho que a banda nunca poderia se desenvolver tanto no lado musical se houvesse uma gravadora ou “management” com o poder de tomar decisões em me dizer o que fazer.Roadie Crew: Quais são os seus planos para depois da turnê de aniversário?
Tilo Wolff: Até agora os meus planos estão voltados para lançar um single para o álbum, ainda este ano, e um DVD com todos os videoclipes da banda, juntamente com um novo álbum ao vivo. Talvez, depois disso, eu dê uma pausa na banda e faça um novo álbum do Snakeskin.Roadie Crew: Para finalizar, deixe uma mensagem para os fãs brasileiros.
Tilo Wolff: Eu gostaria de agradecê-los mais uma vez por nos receberem tão bem na primeira vez que tocamos aí. Espero poder voltar logo ao país, ainda este ano, e acho que será ainda mais legal que da última vez!
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