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25 de julho de 2021 às 19:34 #2169Lacrimaniacos Fã ClubeMestre
Entrevista realizada por Ricardo Campos em setembro de 2001 para a revista Roadie Crew.
Transcrição de texto: Yasmin AmaranteLacrimosa
Inspirando-se na música erudita e nos sentimentos verdadeirosEm 1991, o incrível músico alemão Tilo Wolff, que tem foco principal no vocal, oficialmente deu início a carreira da banda Lacrimosa, com o álbum Angst, que foi seguido por Einsamkeit (1992) e Satura (1993), quando então a vocalista Anne Nurmi, proveniente da banda finlandesa Two Witches se uniu a Tilo para engrandecer o som do Lacrimosa. A partir desse momento, com os álbuns Inferno (1995), Stille (1997), Live (1998), Elodia (1999) e Fassade (2001), a banda aperfeiçoou sua técnica de composição e sua principal característica, que é a união do Gothic Metal com a música erudita, resultando em belíssimos arranjos, com muita melodia, técnica e sentimento. Principalmente nos três últimos álbuns, essa característica vem de forma mais evidente e a evolução musical é indiscutível. Neste ano, com o lançamento do maravilhoso álbum Fassade, o Lacrimosa se prepara para a sua primeira vinda ao Brasil! Porém, o show ainda não está 100% confirmado. Esta entrevista foi realizada em setembro, época em que as datas da turnê ainda não estavam totalmente fechadas. Mas no site oficial (www.lacrimosa.com) foi incluída a data de 29/10, no Tom Brasil, em São Paulo/SP, com a mensagem “a confirmar”. Para os fãs o negócio agora é aguardar e ficar atento ao site, que trará todas as informações. Enquanto ficamos na espera, confira as palavras da simpaticíssima vocalista Anne Nurmi, que nos conta um pouco mais sobre a carreira da banda e o novo álbum, Fassade.
Roadie Crew: O nome Lacrimosa vem do ato Lacrimosa de um Requiem, composto por Wolfgang Amadeus Mozart, que se tornou um dos mais famosos?Anne Nurmi: Sim! O nome da banda foi inspirado no Requiem de Mozart, justamente na parte Lacrimosa que, em muitas línguas, significa algo como lágrimas caindo. Este nome tem um significado muito forte relacionado com a nossa música e Tilo Wolff fez muito bem em escolhê-lo.
Roadie Crew: No primeiro álbum, Angst, existe uma música com o nome Requiem. Mas, independente disso, vocês têm a intenção de algum dia compor um Requiem completo, ajustado ao estilo da banda?Anne Nurmi: A inspiração para a nossa música vem de muitas coisas diferentes, aquelas que nos tocam emocionalmente e que são importantes em nossas vidas. O interesse por compor músicas com orquestrações, arranjos para serem executados por uma orquestra sinfônica é cada vez maior, já que sempre ouvimos diferentes compositores da Música Clássica. Existem muitas emoções diferentes que você pode adicionar à sua música quando tem instrumentos reais de uma orquestra, como violinos, oboés, flautas e tudo mais, atuando em conjunto. Com o passar dos anos, e com esta influência cada vez mais presente em nossa música, aprendemos como compor nestes padrões, pois na orquestração devemos saber exatamente como ocorrerá a atuação de cada instrumento. Quanto mais aprendemos, mais liberdade temos para aprimorar a nossa música junto com a orquestra, coisa que nós realmente gostamos!
Roadie Crew: Antes de se juntar ao Lacrimosa, em 1994, você fazia parte de uma banda chamada Two Witches…
Anne Nurmi: Sim. Esta foi a minha primeira banda na Finlândia, junto com o vocalista Jyrki. Apesar de eu não fazer mais parte, a banda ainda continua a existir, mas acredito que não seja nada muito sério, só mesmo para a diversão e hobby de seus atuais músicos.
Roadie Crew: Como você descreveria o estilo do Lacrimosa?
Anne Nurmi: Eu descreveria como o estilo do Lacrimosa! (risos). Falando sério, uma mistura entre todas as influências que temos da Música Clássica, Rock, Metal, Gótico e Pop.
Roadie Crew: E que bandas de Metal inspiram Tilo e você a compor?
Anne Nurmi: Nenhuma banda específica. Não nos inspiramos em nomes, mas simplesmente no estilo puro.
Roadie Crew: Que tipo de recurso vocês usam para compor as músicas do Lacrimosa?
Anne Nurmi: Escrevemos as músicas nas mais diferentes situações, quando a inspiração vem para a composição. Depois usamos um programa de computador, que nos ajuda na criação dos “samplers”, onde colocamos todas as notas dos instrumentos e a linha que cada um irá seguir. Depois que tudo está pronto, vamos para um estúdio para passar cada música e, algumas vezes, as gravamos ao vivo para que possamos senti-las melhor. A partir do momento que está tudo certo, levamos mais ou menos quatro meses para ter o álbum pronto.
Roadie Crew: Mas é verdade que vocês precisaram de cinco ou seis meses de trabalho intensivo em estúdios de Berlim e Hamburgo para finalizar o novo álbum Fassade?
Anne Nurmi: Foram, mais ou menos, quatro meses para gravar as partes “rock” do álbum, com a banda, num estúdio em Hamburgo. Depois fomos para Berlim para as gravações da orquestra. Usamos os dois estúdios para atingir um nível de gravação mais próximo da perfeição que conseguimos, para que a nossa música ficasse realmente do jeito que imaginamos. Tudo demorou um pouco para ficar pronto porque, além do Fassade, foram gravadas muitas músicas que já estão prontas para o próximo álbum. Como tivemos muito trabalho, e mais material que o normal para ser gravado, precisamos de mais tempo para ter tudo finalizado.
Roadie Crew: Quando a orquestra e coro são gravados, é Tilo Wolff quem os conduz?
Anne Nurmi: Não. Quem faz isso é o regente da respectiva orquestra com a qual estivermos trabalhando. Preferimos assim por ser a pessoa que melhor conhece os músicos com quem sempre trabalha. Pouco antes da data marcada para a gravação, as pessoas envolvidas com a orquestra estudam nossas partituras, fazem os ensaios e ficam prontos para as gravações.
Roadie Crew: Se compararmos os primeiros álbuns, Angst, Einsamkeit , Satura e Inferno, com os mais recentes Stille, Elodia e Fassade, podemos notar uma grande diferença. Como você caracteriza a evolução sonora do Lacrimosa?
Anne Nurmi: Com o tempo, fomos adquirindo cada vez mais conhecimentos e tivemos mais infra-estrutura para usá-los de forma ativa. Aprendemos cada vez mais sobre o lado de produção, como obter um melhor som, a forma mais eficaz de realizar uma mixagem, a constante procura por um estúdio cada vez melhor, com equipamentos mais modernos. Sempre procuramos nos aperfeiçoar e a evolução que tivemos foi notada em cada álbum.
Roadie Crew: Existe alguma relação entre a temática dos álbuns Stille e Elodia? Pergunto isso porque a primeira música do Elodia, Am Ende der Stille, significa algo como “no fim do silêncio”.
Anne Nurmi: Existe sim. O Elodia é como uma continuação de Stille. Nós gostamos de estabelecer uma ligação entre os álbuns. Isso pode também ser notado entre o Elodia e o novo single Der Morgen Danach, pois este último é uma continuação da música Am Ende Stehen Wir Zwei, o que constrói uma ligação entre ambos os álbuns e faz com que os fãs possam sentir, imaginar, perfeitamente as duas juntas. É muito engraçado como isso acontece, pois nós nunca planejamos nada, simplesmente acontece (risos).
Roadie Crew: A palavra “Fassade” significa algo como “fachada”, correto?
Anne Nurmi: Sim. A palavra “Fassade” ainda pode ser traduzida como uma fachada de um prédio, ou a primeira imagem de uma cidade. Mas nos três movimentos da música Fassade falamos sobre uma visão crítica da sociedade atual, das coisas que se passam na cabeça das pessoas como, por exemplo, a superficialidade. As pessoas são guiadas por um número gigantesco de informações jogadas pela mídia sensacionalista, que as atinge pelo lado emocional e por meio de diversão, descontração. Isso faz com que esqueçamos os reais sentimentos e valores, e as pessoas acabam se esquecendo como se comunicar com as outras, como expressar os seus sentimentos, e o resultado disso é uma crescente solidão. É imensa essa manipulação estabelecida pela mídia, pois vemos cada vez mais as pessoas usando as mesmas roupas, ouvindo as mesmas músicas, assistindo os mesmos programas de TV e se esquecem de ouvir a elas mesmas, os seus sentimentos, fazendo com que impere o individualismo. Esta é a forma mais “fácil” de encarar a vida de hoje, pois se você é diferente, pensa diferente do que é imposto, é necessária uma grande força para mostrar o que sente, o porquê de ser diferente. Isso que falamos em Fassade.
Roadie Crew: E por que a música Fassade foi dividida em três atos?
Anne Nurmi: A música veio de três letras que escrevemos que tinham uma grande conexão com o tema. Na parte instrumental dos três atos você pode perceber que algumas passagens principais são repetidas, mas são executadas de formas diferentes pela orquestra. Em cada momento colocamos diferentes instrumentos tocando um mesmo tema. Isso faz com que exista uma conexão temática e instrumental entre as três partes. Também a faixa Liebesspiel é uma espécie de Fassade implícita, pois tem uma grande ligação com a terceira parte desta música. Muitas coisas neste álbum estão implícitas, então é necessária uma grande atenção para receber tudo. Você deve olhar ao redor de “Fassade” para encontrar detalhes ocultos (risos).
Roadie Crew: Isso é muito legal! Apesar de Fassade manter o estilo do Lacrimosa intacto, houve alguma ideia de mudança quando vocês começaram a criar as músicas? Pergunto isso porque quando ouvi algumas faixas bônus do álbum Elodia, Und du Fällst e Meine Welt, as achei bem diferentes do estilo da banda. Então fiquei pensando: “Será que o Lacrimosa virá com um novo estilo um pouco diferente no próximo álbum?”. O que não aconteceu.
Anne Nurmi: Ficou preocupado? (risos) Não tivemos nenhuma intenção de mudança. Quando começamos a compor um álbum não costumamos planejar o que será mudado ou que rumo tomaremos. Apenas deixamos as composições fluírem e os sentimentos tomarem conta de nossa composição. A linguagem de nossa música é o sentimento. Além do mais, o foco não é no estilo que seguiremos, mas nas orquestrações, o que forma a maior parte de nosso tempo para a composição do álbum.
Roadie Crew: A arte gráfica da capa de Fassade está maravilhosa e segue bem o padrão dos álbuns anteriores. Por que vocês sempre usam desenhos em preto e branco nas capas?
Anne Nurmi: Nós gostamos muito do contraste entre as cores preto e branco. Quando você cria uma capa de um álbum, ela deve refletir o que o desenho (ou a foto) quer dizer, com elementos que representam bem as músicas. A capa deve ser feita para que uma pessoa a olhe e comece a imaginar que tipo de música está escondida no álbum. A capa de Fassade explica bem o tema que eu disse anteriormente, com as pessoas procurando por diversão e sendo manipuladas para isto, pois estão com cabos ligados às respectivas cabeças olhando para uma única fonte. Além disso, você pode perceber que no canto esquerdo aparece o arlequim, que sempre usamos em nossas capas, olhando para toda a loucura daquela situação.
Roadie Crew: Isso mesmo! Esse arlequim está presente em quase todas as capas dos álbuns do Lacrimosa. O que ele representa para a banda?
Anne Nurmi: É a visão de outro lado da nossa música, porque quando você olha para um arlequim, pensa em diversão, alegria, sorrisos ou ele fazendo malabarismos com bolas. E se você olhar bem, verá que ele tem um lado da face que ri o outro que chora. Então, atrás desta pessoa que diverte os outros, existe todo um lado emocional, uma vida comum que tem os seus problemas como qualquer outro. Isso é o que passamos em nossa música, que é uma forma de diversão, mas que fala sobre aspectos reais, “problemas” do dia a dia.Roadie Crew: E este personagem (o arlequim) tem um nome, ou apelido que vocês costumam usar?
Anne Nurmi: Não exatamente. Apenas o “arlequim do Lacrimosa”! (risos)
Roadie Crew: Que músicas deste novo álbum serão transformadas em videoclipes?
Anne Nurmi: Até agora ainda não pensamos nisso, ainda mais porque não tem onde passar um videoclipe de uma banda como a nossa aqui na Europa. Várias emissoras de TV, como a MTV daqui, só querem saber de passar músicas de “fácil audição”. Então, no momento, está descartada a possibilidade de um novo clipe, ainda mais porque custará muito dinheiro. Quem sabe daqui a algum tempo.
Roadie Crew: Nos créditos de Fassade, a parte das guitarras é feita apenas por Jay P. O que aconteceu com o antigo guitarrista Sascha Gerbig?
Anne Nurmi: Sascha estará de volta para a turnê, mas o material que compusemos para Fassade não se encaixou completamente no estilo dele. Além disso, Sascha tem outros projetos e trabalha muito em turnês, o que tomou bastante tempo desta vez. Então achamos em Jay, que tinha maior foco para o baixo, um excelente guitarrista, pois é uma pessoa muito mente-aberta e mostrou grande criatividade nas novas ideias que apresentamos para o Fassade.
Roadie Crew: Para comemorar o décimo aniversário de existência do Lacrimosa, vocês lançaram um DVD. Este material ao vivo abrange toda a carreira da banda?
Anne Nurmi: Sim, desde o primeiro show que a banda fez. Este material é um ótimo apanhando da nossa carreira, mostra todas as fases que tivemos e como evoluímos ao vivo, principalmente para aquelas que nunca tiveram a oportunidade de nos ver ao vivo como, por exemplo, os fãs brasileiros. É muito bom para as pessoas verem como é o Lacrimosa em cima de um palco.
Roadie Crew: Nestes dez anos de carreira, vocês obtiveram muito sucesso com turnês “sold out”, um total de mais de 1 milhão de cópias vendidas, presença constante nos charts alemães e diversas premiações. O que você espera, em termos de novos fãs e vendas, para o Fassade?
Anne Nurmi: Agora, além do trabalho da gravadora Hall Of Sermon, que é de Tilo, temos os direitos dos álbuns licenciados para a gravadora Nuclear Blast, que tomará conta das vendas deste álbum em diversos territórios do mundo. Então, teremos uma grande colaboração para este novo trabalho, basta apenas aguardar os resultados. Esperamos atingir o mesmo nível de vendas do Elodia, que nos deixou muito felizes. Até esperamos vender mais, o que nos deixaria mais felizes, pois gastamos muito mais dinheiro na produção de Fassade que em Elodia! (risos) Esperamos bons resultados.
Roadie Crew: Que álbum do Lacrimosa atingiu a melhor vendagem?Anne Nurmi: Todos os álbuns foram muito bem, mas acredito que se fizermos uma proporção pelo tempo de lançamento, o Elodia foi o melhor até agora.
Roadie Crew: E este álbum foi lançado no Brasil pela Hellion Records, coisa que também está acontecendo com o Fassade. Você sabia que vocês são muito cultiados por aqui?
Anne Nurmi: Sim! Sabemos disso pelo contato que temos com a gravadora daí, pelas cartas e emails que recebemos de fãs brasileiros e pelo “guest book” da “homepage” da gravadora Hall of Sermon, que sempre é assinado por pessoas daí. Ficamos muito felizes em saber que as pessoas gostam de nós no Brasil e que não têm nenhum problema conosco por cantarmos em alemão. As pessoas captam bastante o sentimento da nossa música, apesar da maioria não entender a nossa língua, que usamos para cantar a maioria das letras. Mas sempre colocamos a tradução para o inglês no encarte! (risos). Ficamos muito satisfeitos com a resposta positiva dos fãs que temos no Brasil.
Roadie Crew: Quando a nova turnê irá começar?Anne Nurmi: Começará no dia 17 de outubro na França e seguiremos por toda a Europa, até o final de novembro, quando faremos uma curta turnê pela América do Sul, incluindo a Argentina, o Brasil…
Roadie Crew: Brasil?!
Anne Nurmi: Sim, esperamos que desta vez consigamos ir tocar aí em seu país. Mas nada ainda está confirmado, por isso peço para que as pessoas chequem o site oficial da Hall of Sermon, o da banda ou ainda o da All Access, empresa que cuida do nosso “booking”, para que saibam sobre as atualizações e confirmações das datas. Os outros países da América que provavelmente passaremos serão o Chile e México.
Roadie Crew: Espero que desta vez dê certo mesmo, pois o baterista AC está sempre no Brasil, mas nunca com o Lacrimosa!
Anne Nurmi: É verdade, espero que isto seja mudado!
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